segunda-feira, 11 de abril de 2011

População idosa triplica até 2050

Banco Mundial aponta ganho extra de 2,5% no PIB com mais jovens hoje.


O progressivo envelhecimento da população brasileira e redução na taxa de natalidade devem gerar novos desafios para os gastos públicos com previdência e saúde, aponta um estudo divulgado pelo Banco Mundial em um evento na sede do BNDES, no Rio. A população brasileira com mais de 60 anos deve triplicar até 2050, quando o país contará 65 milhões de idosos para uma população estimada em 217 milhões de pessoas.

Com isso, os gastos previdenciários tendem a subir de 11,5% do Produto Interno Bruto (PIB) para cerca 16% do PIB em 2050, caso se repita neste período o crescimento de 3,25% do PIB registrado no país desde 1970. Na saúde, as despesas passariam de 4,3% para 6,1% do PIB.

Por enquanto, o país está vivendo o chamado "bônus demográfico" - fenômeno quando a força de trabalho de um país é um muito maior do que sua população dependente. Essa situação tem o potencial de elevar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma de riquezas produzidas no país) em 2,48% ao ano de 2010 a 2045.

- O país pode assim aumentar seu PIB per capita em dois 2,48 ponto percentuais ao ano, entre 2010 e 2045, somente por causa deste bônus - afirmou Michele Gragnolati, principal autor da pesquisa do Banco Mundial, que lembrou, contudo, que isso só será conquistado integralmente com ganho de competitividade do país, principalmente com melhorias na educação.

Mas o Banco Mundial prevê aumento da despesa com previdência e saúde públicas.

- Não adianta dizer que haverá menos crianças e que, com isso, haverá uma substituição dos gastos. Os gastos de saúde com idosos são de sete a oito vezes maiores que as despesas com crianças - afirmou Paulo Tafner, pesquisador do Ipea.

Gastos com infância tem que crescer, diz estudo

Makhtar Diop, diretor do Banco Mundial para o Brasil, lembrou na divulgação do relatório "Envelhecendo em um Brasil Mais Velho", que a boa cobertura previdenciária no Brasil contrasta com o pouco gasto relativo para a infância:

- O Brasil é um ponto fora da curva. Temos que continuar a assistência aos mais velhos mas intensificar a atuação social junto aos mais jovens, sobretudo na área da educação - disse.

Carlos Eduardo Gabas, secretário-executivo do Ministério da Previdência, afirmou que há pontos que precisam ser aperfeiçoados, mas disse que, em linhas gerais, o governo acerta em ter uma ampla cobertura previdenciária.

- Mas há pontos que precisam ser aperfeiçoados e que estão sendo estudados pelo governo. No Brasil de hoje não pode haver pessoas que se aposentam aos 50 anos - disse, sem adiantar as linhas das medidas que estão sendo analisadas.

Guilherme Lacerda, presidente da Funcef, disse que a previdência privada precisa ser incentivada no país. Ele também criticou os altos juros.

(Fonte: Henrique Gomes Batista - O Globo)

Câncer cada vez mais precoce

Médicos constatam que têm crescido os casos de tumor de mama em mulheres com menos de 40 anos. Por isso, debatem terapias e métodos de diagnóstico contra o mal, que deve matar ao menos 10 mil este ano no Brasil.


Números do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional do Câncer (Inca) sobre câncer de mama no Brasil para o biênio 2010/2011 revelam que, até o fim deste ano, deverão ter sido assinados nos hospitais brasileiros cerca de 10 mil atestados de óbito de um contingente de cerca de 50 mil pacientes diagnosticadas com câncer de mama: um quinto da população vítima da doença. Como se não bastasse a gravidade desses indicadores, a comunidade médica tem ficado cada vez mais preocupada com a constatação de que o número de casos do mal em mulheres abaixo dos 40 anos vem aumentando significativamente.

No Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, o médico Artur Katz comenta o assunto com preocupação, baseado em sua experiência clínica diária. “Tenho visto mulheres de 19 anos, de 30, 35, em quantidade muito maior, e isso não é normal”, afirma. Katz sustenta que, normalmente, cerca de 70% dos casos ocorrem em pessoas acima dos 65 anos, contra 5% a 10% em mulheres abaixo dos 39. Esses percentuais, no entanto, já não são os mesmos, segundo ele: “Não temos ainda uma pesquisa definitiva, apenas estudos pontuais sobre o tema, mas o crescimento é um fato”.

O médico descarta que isso ocorra unicamente porque o sistema de diagnósticos tem sido mais precoce ou eficiente. “Acredito que tem a ver com a história da mulher. Antes, no tempo de nossas avós, elas menstruavam mais tarde, tinham filhos mais cedo e em maior quantidade e amamentavam mais.” Artur Katz credita ainda ao tabagismo e a outros fatores externos a elevação da incidência de casos do câncer de mama em mulheres jovens. No Hospital A.C. Camargo, também na capital paulista e uma das referências em oncologia no país, a radiologista Márcia Aracava acompanha o raciocínio do colega. “Fatores ambientais podem estar provocando esses casos. O que preocupa é que esse tipo de câncer é muito mais agressivo em pessoas jovens.”

O médico Ronaldo Correa, do Inca, pede, contudo, cautela quando se fala em aumento de casos nessa faixa etária. “Só se pode confirmar uma estatística dessas se for baseada em registro de câncer de base populacional (RCBP). O que temos são opiniões sobre o assunto”, pondera, mesmo reconhecendo que há dados concretos apontando nesta direção.

A última pesquisa feita pelo Inca, em parceria com o Hospital do Câncer de São Paulo, é de 2005. Na época, registrou-se um crescimento de 17% dos casos de câncer de mama em mulheres abaixo dos 39 anos, três vezes mais que o esperado. Recentemente, o Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp) concluiu pesquisa que endossa a suspeita de Artur Katz: nos últimos três anos, 15% das pacientes têm menos de 45 anos. Foram analisados 2.573 casos.

Guerra celular Quando se fala em câncer, atualmente, sabe-se que as batalhas serão travadas de forma cada vez mais frequente nos campos da genética e da biologia molecular. “As novas tecnologias melhoraram as perspectivas do diagnóstico precoce e a identificação das mutações cromossômicas. Esse novo arsenal pode nos orientar a entender melhor as neoplasias e a encontrar novos bloqueadores de ação dos oncogenes”, avalia o patologista Carlos Bacchi, o único no Brasil que faz um teste semelhante ao holandês MammaPrint, a mais confiável assinatura genética em exames patológicos.

A versão nacional é o MammaGene, um genérico do norte-americano Oncotype e do teste holandês. “É a mesma coisa, não tem diferença. É importante, porque prediz que um paciente vai ser de baixo ou alto risco num período de 10 anos”, explica o médico, consultor de grandes centros de oncologia. O modelo holandês é anterior ao americano. A diferença entre os dois é que o Oncotype trabalha com a leitura de 21 genes e o MammaPrint com 70. Os dois têm a capacidade de dizer, também, se o paciente deve fazer ou não quimioterapia e acerta o alvo dos prognósticos a uma distância no tempo de até 10 anos. “São exames fundamentais para um grupo de pacientes com a doença no início”, comenta a oncologista Solange Sanches, do A.C. Camargo.

A versão brasileira, porém, não fica atrás das outras, embora apresente o mesmo problema: o preço. Um teste desses não sai por menos de US$ 5 mil. Além do custo dos exames, outro fator complicador é o preço dos medicamentos. Para ter ideia, um tratamento de um ano com uma droga nova como o herceptin, um poderoso anticorpo monoclonal (feito de RNA, a cópia da célula) que bloqueia a ação do oncogene HER-2, usado contra o câncer de mama, não sai por menos de R$ 30 mil.

O herceptin faz parte de uma família de inibidores genéticos que representa o futuro e a possibilidade de derrotar o câncer de mama. Essa guerra já começou há algumas décadas, mas agora ela ganha contornos mais definidos. Além do herceptin, juntam-se à bateria anticâncer da atualidade outros dois inibidores, o PRP e o TDM-1. “Mas é preciso ter muito cuidado quando se fala sobre essas drogas para não dar esperanças vãs ao paciente”, adverte Artur Katz, referindo-se ao fato de que elas são benéficas para grupos determinados de pacientes e, às vezes, apenas por um determinado tempo.

(Fonte: Carlos Tavares - Estado de Minas)