sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Corpos em transformação

Mais alto e cada vez mais acima do peso. Este é o retrato do brasileiro na primeira década do século 21. Os 3 centímetros que separam as mulheres brasileiras de hoje em relação às de 1989 podem parecer pouco, mas em um estudo detalhado, os números revelam os benefícios e prejuízos de uma mudança de hábitos. A altura média das brasileiras passou de 1,55m há duas décadas para 1,58m em 2003. Entre os homens, a diferença é um pouco menor (1,68m para 1,70m), mas não menos expressiva. Quanto ao peso, os dados são alarmantes: em 2006, 54,1% da população tinha excesso de peso ou era obesa. Em três anos, esse número saltou para 60,5%. Essas transformações, explicam os especialistas, se devem a uma conjunção de fatores, que vão da mistura de predisposições genéticas ao longo das gerações ao maior acesso da população a tratamentos de doenças graves – que limitavam o desenvolvimento de crianças e adolescentes – passando invariavelmente pelo excesso de comodidade oferecida pela vida moderna. “Na maioria dos casos a melhora do padrão de vida se traduziu em aumento no sedentarismo e consumo de alimentos prejudiciais à saúde”, explica Marcella Duarte, médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Segundo o médico endocrinologista e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) Henrique Suplicy, a mudança do perfil corporal do brasileiro é nítida. “Passamos de um povo que sofria com a desnutrição, em décadas anteriores, para uma população que luta, atualmente, contra os riscos da obesidade”, resume. Mais alto De maneira simples, o brasileiro ficou mais alto porque, nas últimas décadas, passou a ter à disposição uma grande variedade de alimentos, o que permite que se coma mais e com mais qualidade. Porém, esta diversidade nem sempre leva as pessoas a fazerem as melhores escolhas e a maioria opta por adicionar alimentos industrializados ao cardápio, como congelados, comidas prontas, refrigerantes e fast food. “Como esses produtos têm altas taxas de açúcar, gorduras, conservantes e sódio, rapidamente levam ao excesso de peso e, em muitos casos, à obesidade”, aponta Edilcéia do Amaral Ravazzani, conselheira do Conselho Regional de Nutricionistas do Paraná (CRN-PR) e presidente do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional. E as consequências disso vão além dos quilinhos a mais na balança. “Com a obesidade, surgem problemas que aparecem de maneira cada vez mais precoce, como aumento nas taxas de colesterol, diabete, enfarte, AVC e hipertensão”, diz. Os números comprovam. Segundo dados da pesquisa Vigitel, divulgada no ano passado e realizada pelo Ministério da Saúde, um dos símbolos da cultura brasileira, o tradicional prato de arroz e feijão, está perdendo espaço e somente 65,8% dos brasileiros disseram consumir feijão pelo menos cinco vezes por semana em 2009, contra 71,9% em 2006. A queda, segundo Deborah Malta, coordenadora de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, se deve ao tempo que o alimento leva para ficar pronto. “Parece mais prático comprar uma lasanha congelada ou fazer um macarrão instantâneo que esperar um tempo a mais até o feijão ficar pronto para o consumo”, explica. Os prejuízos para a saúde vindos dessas trocas são evidentes. “O arroz com feijão é perfeito porque favorece a absorção de proteínas e oferece pouca gordura e calorias, muitas vitaminas e fibras e uma série de nutrientes importantes, como o ferro. Sem ela e com a ingestão de industrializados, o risco de doenças como diabete e hipertensão é grande”, diz Marcella. Sedentarismo Não é preciso ser um especialista para notar as mudanças no ritmo de vida dos brasileiros. A mesma pesquisa mostra um dado cotidiano: somente 20% dos brasileiros comem vegetais e praticam exercícios físicos com frequência. “Basta pensar que, há algumas décadas, poucas pessoas tinham carro e os sistemas de transporte urbano eram bem menos abrangentes, então a maioria se locomovia a pé ou de bicicleta”, comenta Deborah. Segundo ela, as mudanças nas formas de trabalho e lazer também tiveram um grande impacto nas mudanças no corpo dos brasileiros. “Antigamente, a maioria da população era rural e o trabalho era muito pesado, exigindo grande esforço físico todos os dias e os momentos de lazer eram dedicados a ir ao parque, passear e caminhar pela cidade. Hoje, grande parte dos trabalhadores passam o dia sentados em frente ao computador e, na hora de relaxar, preferem usar o computador ou assistir à tevê, atividades sedentárias.” Se a alimentação foi um dos motivos que deixou os brasileiros mais gordinhos, também foi responsável por adicionar uns centímetros à estatura média e, neste caso, até pequenas atitudes fizeram diferença. “Um marco foi a conscientização a respeito da importância dos exames de pré-natal e do aleitamento materno pelo menos até os seis meses de vida. Com isso, nossas gestantes têm menos casos de desnutrição e doenças e as crianças podem se desenvolver de maneira plena desde o início da vida”, explica Victor Horácio de Souza Costa Júnior, médico pediatra do Hospital Pequeno Príncipe e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). A lógica é simples: Mães bem nutridas geram bebês muito mais fortes e saudáveis que, alimentados de maneira correta e com hábitos como praticar exercícios físicos periodicamente, tornam-se adultos mais altos. (Fonte: Rafaela Bortoloni – Gazeta do Povo) Comente esta matéria, QUE VOCÊ TENHA UMA ÓTIMA SEXTA-FEIRA! E um EXCELENTE fim de semana!

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